Ele olhou fixamente para ela, sem dizer nada. Supôs que deveria estar pensando na forma como ela havia se fechado antes. Afastou os cabelos que caíam na frente dos olhos, imaginando se realmente deveria continuar.
— Quer ouvir a minha história?
— Só se
você quiser me contar.
Beth
sentiu seus pensamentos flutuando do presente para o passado e suspirou.
— É a
mesma velha história de sempre... eu era uma nerd, terminando o ensino médio, e
ele era um pouco mais velho que eu, mas desde pequenos frequentávamos a mesma
igreja, então eu sabia exatamente quem ele era.
Começamos
a namorar um pouco antes da minha formatura. Ele era de família rica e sempre
saía com as meninas mais populares, então acho que me deixei envolver por esse
tipo de fantasia. Ignorei problemas óbvios, inventei desculpas para outros, e
acabei descobrindo que estava grávida. Subitamente, minha vida tinha mudado
totalmente, sabe? Não ia começar a faculdade no início do outono, não tinha a
menor idéia do que era ser mãe, muito menos mãe solteira; não sabia como lidar
com tudo aquilo. A última coisa que esperava no mundo é que ele fosse me pedir
em casamento. Mas, não sei por quê, ele pediu, e eu disse sim, e apesar de
querer acreditar que ia dar certo e de ter feito o máximo para convencer Nana
de que sabia o que estava fazendo, sei que nós duas sabíamos que aquilo era um
erro antes mesmo que a tinta da minha assinatura na certidão de casamento
secasse. Literalmente, não tínhamos nada em comum. Então, brigávamos
constantemente e acabamos nos separando logo depois que Ben nasceu. E depois me
senti totalmente perdida.
Logan
juntou as mãos.
— Mas
isso não a impediu de continuar.
—
Continuar o quê?
— De
finalmente ir para a faculdade e se tornar professora. E aprender a ser mãe
solteira. E, de alguma forma, lidar com tudo aquilo.
O
sorriso de Beth mostrava gratidão.
— Com a
ajuda de Nana.
— Mesmo
assim — ele cruzou as pernas e pareceu examiná-la antes de dar um sorriso
maroto. — Quer dizer que é nerd.
— No
ensino médio? Com certeza eu era.
— Acho
difícil acreditar.
—
Acredite se quiser.
— E
como foi a faculdade?
— Você
quer dizer, por causa do Ben? Não foi fácil. Mas eu já tinha alguns créditos
por causa do meu histórico escolar do ensino médio, o que me ajudou a sair na
frente. Depois, frequentei a faculdade local até Ben sair das fraldas. Ia à
faculdade duas ou três vezes por semana e Nana cuidava de Ben, e eu ficava em
casa e estudava quando não estava exercendo minha função de mãe.
O mesmo
aconteceu quando consegui minha transferência para a Universidade da Carolina
do Norte, em Wilmington, que era perto o suficiente para que pudesse voltar
para casa à noite. Levei seis anos para me formar e conseguir meu diploma, mas
não podia explorar Nana e não queria dar ao meu ex uma razão para conseguir a
guarda total. E. naquela época, ele podia até ter pedido a guarda, era só ele
querer.
— Ele
parece ser uma pessoa adorável. Ela sorriu.
— Você
nem imagina.
— Quer
que eu dê uma surra nele?
Ela
riu.
—
Engraçado. Houve uma época em que eu até aceitaria sua oferta, mas agora já
passou. Ele só é... imaturo. Acha que toda mulher que encontra fica louca por
ele, fica nervoso diante de coisas sem importância, e culpa os outros quando
algo dá errado para ele. Já passou dos 30 anos e parece que tem 16, se é que
você me entende — pelo canto do olho, percebia que ele a observava. — Mas chega
de falar dele. Fale alguma coisa de você.
— O
quê, por exemplo?
—
Qualquer coisa, sei lá. Por que você escolheu antropologia?
Ele
refletiu sobre a pergunta.
— Acho
que por personalidade.
— O que
você quer dizer com isso?
— Sabia
que não tinha intenção de me formar em nada prático, como administração ou
engenharia, e, no fim do meu primeiro ano de faculdade, comecei a trocar idéias
com outras pessoas que estavam se formando em artes liberais. As pessoas mais
interessantes que encontrei eram os estudantes de antropologia. Achei
significativo.
—Você está brincando.
— Não
estou não. É por isso que fiz as aulas introdutórias, pelo menos.
Depois
disso, percebi que antropologia é uma grande mistura de história, hipó-
teses e
mistério, e me interesso por tudo isso. Acabei ficando viciado.
— E as
festas?
— Nunca
gostei muito.
— Jogos
de futebol?
—
Também não.
—
Alguma vez sentiu que estava deixando de aproveitar as oportunidades reais que
a faculdade te oferecia?
— Não.
— Eu
também não. Pelo menos, não depois do nascimento de Ben.
Ele
concordou, depois apontou em direção à mata.
—
Hum... será que não está na hora de Zeus ir atrás de Ben?
— Ai,
meu Deus! — seu tom não conseguia esconder o pânico. — Claro.
Ele
consegue encontrá-lo, não consegue? Quanto tempo já foi?
— Não
muito. Cinco minutos, talvez. Deixe-me buscar o Zeus. E não se preocupe. Não
vai levar muito tempo.
Logan
abriu a porta e Zeus veio para fora, abanando o rabo, depois foi até a escada.
Imediatamente levantou uma perna ao lado da varanda, depois subiu a escada
voltando para perto de Logan.
— Cadê
o Ben? — Logan perguntou.
Zeus
levantou as orelhas. Logan apontou na direção em que Ben havia ido.
— Procure o Ben.
— Procure o Ben.
Zeus
virou-se e começou a caminhar em círculos, sempre com o focinho no chão. Em
segundos, achou a pista e desapareceu no meio da escuridão.
— Devemos segui-lo? — perguntou Beth.
— Você
quer?
— Quero.
—
Então, vamos.
Mal
chegaram às primeiras árvores e ouviram o feliz latido de Zeus, seguido da voz
de Ben, que mais parecia um grito de felicidade. Quando ela se virou para
Logan, ele deu de ombros.
— Você
não estava mentindo, não é mesmo? Quanto tempo levou? Dois minutos?
— Não
foi difícil para ele. Sabia que Ben não poderia ter ido tão longe.
— Qual
foi a maior pista que eleja teve de seguir?
— Foi a
de um veado. Seguiu-a por mais de 10 quilômetros ou algo assim.
Poderia
ter continuado, mas encontrou uma cerca pelo caminho. Estávamos no Tennessee.
— Por
que seguiu o veado?
— Para
se exercitar. É um cachorro esperto. Gosta de aprender e usar suas habilidades
— enquanto falava, Zeus apareceu no meio das árvores, com Ben logo atrás dele.
— E é por isso que essa brincadeira é tão divertida para ele quanto é para Ben.
— Foi
impressionante — disse Ben. — Ele veio direto até mim. E eu estava bem
quietinho.
— Quer
fazer de novo? — Logan perguntou.
—
Posso? — Ben implorou.
— Se
sua mãe deixar.
Ben
virou-se para a mãe e ela levantou as mãos. — Vá em frente!
—
Legal! Tranque-o dentro de casa de novo. E vou me esconder muito bem dessa vez.
— Pode
deixar.
Da
segunda vez que Ben se escondeu, Zeus o encontrou em uma árvore.
Logan os acompanhou até em casa. Depois de se despedir de
Ben, virou-se para Beth e pigarreou.
—
Gostaria de lhe agradecer pela noite maravilhosa, mas é melhor ir andando.
Apesar
de já serem quase 22 horas, parte dela não queria que ele fosse ainda.
— Quer
uma carona? Ben já vai dormir e posso levar você em casa sem nenhum problema.
—
Obrigado, mas não é necessário. Gosto de caminhar.
— Eu
sei. Não sei muito sobre você, mas isso é algo que já sei — sorriu.
—
Então, até amanhã, certo?
— Eu
chego às 7 horas.
— Posso
alimentar os cães se você quiser chegar um pouco mais tarde.
— Sem
problemas. E, além disso, gostaria de ver o Ben antes de ele sair.
E tenho
certeza de que Zeus também. O coitadinho provavelmente nem vai saber o que
fazer sem o Ben para correr atrás dele.
Então,
tá — sentiu-se subitamente desapontada ao pensar na partida de Logan.
— Tudo
bem se eu usar o caminhão amanhã? Preciso ir até a cidade comprar algumas peças
para consertar o breque. Se não der, posso ir andando.
Ela
sorriu.
— Eu
sei disso. Mas não há problema algum. Tenho de levar o Ben e fazer algumas
coisas, mas, se não vir você, deixo a chave debaixo do tapete do lado do
motorista.
— Tudo
bem — disse, olhando diretamente para ela. — Boa noite, Elizabeth.
— Boa
noite, Logan.
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