Tudo aquilo estava longe da sua cabeça ao ver Logan tocando piano. Não sabia o que esperar. Quantas pessoas estudaram piano? Quantas pessoas alegaram tocar bem? Não levou muito tempo para perceber a habilidade excepcional de Logan, muito acima do que estava esperando. Seus dedos deslizavam pelo teclado e seus movimentos eram fluidos; nem parecia olhar para a partitura a sua frente. Enquanto Nana cantava, porém, sua atenção estava voltada para ela, ao mesmo tempo em que mantinha ritmo e andamento perfeitos.
Estava
muito mais interessado na atuação dela do que em sua própria.
Enquanto
ele continuava tocando, ela pensava na história que Nana havia lhe contado no
carro. Dispersou-se do culto para relembrar as suas conversas com Logan, da
sensação que o abraço dele lhe transmitia, da sua maneira natural de conviver
com Ben. Sabia que havia muita coisa desconhecida sobre ele ainda, mas tinha
uma certeza: Logan a completava de uma forma que jamais havia considerado
possível. Saber os fatos não era o mais importante, disse a si mesma, pois
sabia, usando as palavras da sua avó, que ele era o pão da sua manteiga.
Depois
do culto, Beth ficou observando de longe, divertindo-se com o fato de que Logan
estava sendo tratado como celebridade. Tudo bem que se tratava de uma
celebridade cujos fãs eram todos dependentes da Previdência Social, mas, pelo
que podia perceber, ele parecia ao mesmo tempo orgulhoso e envergonhado pela
atenção inesperada.
Ao
olhar para ela, viu que em seu olhar havia um silencioso pedido de resgate. Mas
tudo o que ela fez foi sorrir e dar de ombros. Não queria interferir.
Quando
o pastor veio agradecer-lhe novamente, sugeriu que Logan poderia continuar
tocando mesmo depois que Abigail se recuperasse do pulso quebrado.
— Tenho
certeza de que vamos encontrar uma solução — disse o pastor.
Ficou
mais surpresa ainda quando vovô, com Ben ao seu lado, passou no meio da
multidão para cumprimentá-lo. Ao longe viu que Keith tinha uma expressão que
demonstrava um misto de raiva e repulsa.
— Bom
trabalho, meu jovem — vovô estendeu a mão. — Toca como quem foi abençoado.
Pela
expressão de Logan, deu para ver que ele reconheceu seu interlocutor, apesar de
que Beth não fizesse a menor idéia de como sabia quem ele era. Ele apertou a
mão de vovô.
—
Obrigado, senhor.
— Ele
trabalha no canil com Nana. E acho que ele e a mamãe estão namorando.
Diante
disso, fez-se um silêncio por entre a multidão de admiradores, quebrado apenas
por algumas pessoas tossindo de embaraço.
Vovô
olhou para Logan, mas ela não percebeu nada de diferente em sua expressão.
— É
verdade? — perguntou vovô.
— Sim,
senhor — respondeu Logan.
Vovô
não disse nada.
— Ele
também foi fuzileiro naval — disse Ben, sem se dar conta das correntes sociais
que se alvoroçavam ao seu redor.
Vovô
pareceu surpreso, e Logan concordou com a cabeça.
— Servi
no Quinto Batalhão, do Quinto Regimento, baseado em Pendleton, senhor.
Depois
de uma longa pausa, vovô balançou a cabeça.
—
Então, obrigado pelo serviço prestado ao nosso país também. Você fez um
trabalho maravilhoso hoje.
—
Obrigado, senhor — disse novamente.
— Você
foi tão educado — disse Beth quando voltavam para casa.
Não
comentou nada até Nana estar longe o suficiente para não poder ouvir. Lá fora,
a grama começava a se transformar em um lago, e a chuva não parava de cair.
Passaram para pegar Zeus no caminho de volta e ele agora dormia aos seus pés.
— E por
que não seria?
Ela fez
uma careta.
— Você
sabe por quê.
— Ele
não é o seu ex — deu de ombros. — Duvido que saiba o que seu ex anda
aprontando. Por quê? Você acha que deveria ter contado a ele?
— De
forma alguma.
—
Também achei que não. Mas olhei para seu ex quando estava falando com o avô
dele e ele estava com cara de quem comeu e não gostou.
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