Thibault
Apesar
da chuva, Thibault não conseguia se imaginar voltando para casa.
Queria
ficar lá fora; sentir-se quente e seco não parecia correto. Queria punir-se
pelo que tinha feito, por todas as mentiras que havia contado.
Ela
estava certa. Não havia sido honesto com ela. Apesar da dor que sentiu por
algumas das coisas que ela lhe disse e da falta de disposição que demonstrou em
ouvi-lo, encontrava justificativa no sentimento de traição que ela estava
sentindo. Mas como explicar Não entendia totalmente os motivos que a levaram a
interpretar as atitudes dele como as de um louco. Era óbvio que estava
obcecado, mas não da forma como ela havia imaginado.
Devia
ter contado a ela sobre a fotografia assim que chegou e esforçava-se para
encontrar as razões que o haviam levado a optar por não contar. Na pior das
hipóteses, ela teria ficado surpresa e feito algumas perguntas, e ia acabar
ficando nisso. Suspeitava de que Nana o teria contratado da mesma forma, e nada
disso teria acontecido.
Mais do
que tudo, queria dar meia-volta e ir atrás dela. Queria explicar, contar a
história toda desde o início.
Mas não
ia fazer isso, ela precisava ficar um tempo sozinha, ou pelo menos longe dele.
Precisava de um tempo para se recuperar e talvez, apenas talvez, entender que o
Thibault que ela havia aprendido a gostar era o único Thibault que existia.
Imaginava se esse tempo sozinha seria capaz de fazer com que ela lhe perdoasse.
Thibault
caminhava, afundando os pés na lama. Percebeu quando um carro passou
lentamente, e a água atingiu seus eixos. Mais para frente viu o rio tomando o
espaço da ma cada vez mais. Decidiu cortar caminho pela floresta.
Talvez
fosse a última vez que fizesse esse caminho. Talvez fosse hora de voltar para o
Colorado.
Thibault
continuou caminhando. A folhagem de outono, ainda nas árvores, fornecia um
abrigo parcial à chuva, e, quanto mais penetrava na mata, mais sentia que a
distância entre eles começava a aumentar.
Beth
Beth
tinha acabado de tomar um banho e estava de pé em seu quarto, usando uma enorme
camiseta quando Nana colocou a cabeça na porta.
— Você
quer conversar? A escola me ligou dizendo que você estava vindo para casa. O
diretor disse que estava um pouco preocupado com você, e depois vi quando
estacionou no escritório. Achei que vocês dois estavam tendo uma briguinha.
— É
mais do que uma briguinha, Nana — disse Beth, em um tom de cansaço.
— Isso
eu concluí pelo fato de ele ter ido embora e você ter ficado tanto tempo na
varanda depois disso.
Beth
concordou com a cabeça.
— Tem
algo a ver com o Ben? Ele não o machucou, não é? Ou a você?
— Não,
não é nada disso.
— Bom,
porque isso é a única coisa que não pode ser perdoada.
— Não
sei se essa pode.
Nana
olhou para a janela antes de dar um longo suspiro.
— Acho
que vou ter de dar comida aos cães hoje, certo?
Beth
olhou para ela com irritação.
—
Obrigada por ser tão compreensiva.
— Gatinhos
e florzinhas — disse, erguendo as mãos.
Beth
refletiu sobre as palavras dela e acabou soltando um murmúrio de frustração.
— O que
você quer dizer com isso
— Não
quer dizer nada, mas, por um segundo, consegui fazer você ficar tão irritada que
parou de sentir pena de si mesma.
—Você
não entende...
—
Então, me faça entender.
— Ele
me perseguiu, Nana. Por cinco anos, e depois atravessou o país para me
procurar. Ele ficou obcecado.
Nana
ficou surpreendentemente em silêncio.
— Por
que você não começa do começo? — sugeriu, sentando-se na cama de Ben.
Beth
não tinha certeza se queria falar sobre isso, mas achou que seria melhor falar
logo de uma vez. Começou recontando a visita de Keith em sua sala de aula, e,
por vinte minutos, contou a Nana sobre sua partida abrupta da escola, sua
insegurança agonizante, e concluiu com o confronto com Logan. Ao terminar, Nana
juntou as mãos no colo.
—
Então, Thibault admitiu ter a fotografia? E, de acordo com você, disse que era
um amuleto da sorte e decidiu vir até aqui porque sentia ter uma dívida com
você?
Beth
concordou.
— É
isso aí.
— O que
ele quis dizer com amuleto da sorte?
— Não
sei.
— Você
não perguntou?
— Nem
me importei... Nana. A coisa toda é... assustadora e estranha.
Quem
faria uma coisa dessas?
Nana
franziu as sobrancelhas.
—
Admito que pareça estranho, mas acho que ia querer saber por que ele acreditava
ser um amuleto da sorte.
— Por
que isso importaria?
—
Porque você não estava lá — enfatizou. — Você não viveu as coisas que ele viveu.
Talvez ele esteja falando a verdade.
— A
fotografia não é um amuleto. Isso é loucura.
—
Talvez. Mas já vivo há muitos anos para saber das coisas estranhas que
acontecem na guerra. Os soldados acreditam em certas coisas, e se acham que
algo os mantêm em segurança, que mal há nisso?
Beth
suspirou.
— Uma
coisa é acreditar. Outra totalmente diferente é ficar obcecado pela fotografia
e perseguir a pessoa.
Nana
colocou a mão no joelho de Beth.
— Todo
mundo dá uma de louco às vezes.
— Não
dessa forma. Há uma coisa assustadora nessa história.
Nana
ficou quieta antes de deixar escapar um suspiro.
— Pode
ser que você esteja certa — deu de ombros.
Beth
analisou o rosto de Nana, subitamente deixou-se vencer pela exaustão.
— Você
pode me fazer um favor?
— O
quê?
— Você
pode ligar para o diretor e pedir para ele trazer Ben para casa depois da
escola? Não quero que você dirija com esse tempo, mas também não estou em
condições de dirigir.
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