terça-feira, 16 de julho de 2013

11- Momentos dificeis






Thibault
                Apesar da chuva, Thibault não conseguia se imaginar voltando para casa.
                Queria ficar lá fora; sentir-se quente e seco não parecia correto. Queria punir-se pelo que tinha feito, por todas as mentiras que havia contado.
                Ela estava certa. Não havia sido honesto com ela. Apesar da dor que sentiu por algumas das coisas que ela lhe disse e da falta de disposição que demonstrou em ouvi-lo, encontrava justificativa no sentimento de traição que ela estava sentindo. Mas como explicar Não entendia totalmente os motivos que a levaram a interpretar as atitudes dele como as de um louco. Era óbvio que estava obcecado, mas não da forma como ela havia imaginado.
                Devia ter contado a ela sobre a fotografia assim que chegou e esforçava-se para encontrar as razões que o haviam levado a optar por não contar. Na pior das hipóteses, ela teria ficado surpresa e feito algumas perguntas, e ia acabar ficando nisso. Suspeitava de que Nana o teria contratado da mesma forma, e nada disso teria acontecido.
                Mais do que tudo, queria dar meia-volta e ir atrás dela. Queria explicar, contar a história toda desde o início.
                Mas não ia fazer isso, ela precisava ficar um tempo sozinha, ou pelo menos longe dele. Precisava de um tempo para se recuperar e talvez, apenas talvez, entender que o Thibault que ela havia aprendido a gostar era o único Thibault que existia. Imaginava se esse tempo sozinha seria capaz de fazer com que ela lhe perdoasse.
                Thibault caminhava, afundando os pés na lama. Percebeu quando um carro passou lentamente, e a água atingiu seus eixos. Mais para frente viu o rio tomando o espaço da ma cada vez mais. Decidiu cortar caminho pela floresta.
                Talvez fosse a última vez que fizesse esse caminho. Talvez fosse hora de voltar para o Colorado.
                Thibault continuou caminhando. A folhagem de outono, ainda nas árvores, fornecia um abrigo parcial à chuva, e, quanto mais penetrava na mata, mais sentia que a distância entre eles começava a aumentar.




Beth
                Beth tinha acabado de tomar um banho e estava de pé em seu quarto, usando uma enorme camiseta quando Nana colocou a cabeça na porta.
                — Você quer conversar? A escola me ligou dizendo que você estava vindo para casa. O diretor disse que estava um pouco preocupado com você, e depois vi quando estacionou no escritório. Achei que vocês dois estavam tendo uma briguinha.
                — É mais do que uma briguinha, Nana — disse Beth, em um tom de cansaço.
                — Isso eu concluí pelo fato de ele ter ido embora e você ter ficado tanto tempo na varanda depois disso.
                Beth concordou com a cabeça.
                — Tem algo a ver com o Ben? Ele não o machucou, não é? Ou a você?
                — Não, não é nada disso.
                — Bom, porque isso é a única coisa que não pode ser perdoada.
                — Não sei se essa pode.
                Nana olhou para a janela antes de dar um longo suspiro.
                — Acho que vou ter de dar comida aos cães hoje, certo?
                Beth olhou para ela com irritação.
                — Obrigada por ser tão compreensiva.
                — Gatinhos e florzinhas — disse, erguendo as mãos.
                Beth refletiu sobre as palavras dela e acabou soltando um murmúrio de frustração.
                — O que você quer dizer com isso
                — Não quer dizer nada, mas, por um segundo, consegui fazer você ficar tão irritada que parou de sentir pena de si mesma.
                —Você não entende...
                — Então, me faça entender.
                — Ele me perseguiu, Nana. Por cinco anos, e depois atravessou o país para me procurar. Ele ficou obcecado.
                Nana ficou surpreendentemente em silêncio.
                — Por que você não começa do começo? — sugeriu, sentando-se na cama de Ben.
                Beth não tinha certeza se queria falar sobre isso, mas achou que seria melhor falar logo de uma vez. Começou recontando a visita de Keith em sua sala de aula, e, por vinte minutos, contou a Nana sobre sua partida abrupta da escola, sua insegurança agonizante, e concluiu com o confronto com Logan. Ao terminar, Nana juntou as mãos no colo.
                — Então, Thibault admitiu ter a fotografia? E, de acordo com você, disse que era um amuleto da sorte e decidiu vir até aqui porque sentia ter uma dívida com você?
                Beth concordou.
                — É isso aí.
                — O que ele quis dizer com amuleto da sorte?
                — Não sei.
                — Você não perguntou?
                — Nem me importei... Nana. A coisa toda é... assustadora e estranha.
                Quem faria uma coisa dessas?
                Nana franziu as sobrancelhas.
                — Admito que pareça estranho, mas acho que ia querer saber por que ele acreditava ser um amuleto da sorte.
                — Por que isso importaria?
                — Porque você não estava lá — enfatizou. — Você não viveu as coisas que ele viveu. Talvez ele esteja falando a verdade.


                — A fotografia não é um amuleto. Isso é loucura.
                — Talvez. Mas já vivo há muitos anos para saber das coisas estranhas que acontecem na guerra. Os soldados acreditam em certas coisas, e se acham que algo os mantêm em segurança, que mal há nisso?
                Beth suspirou.
                — Uma coisa é acreditar. Outra totalmente diferente é ficar obcecado pela fotografia e perseguir a pessoa.
                Nana colocou a mão no joelho de Beth.
                — Todo mundo dá uma de louco às vezes.
                — Não dessa forma. Há uma coisa assustadora nessa história.
                Nana ficou quieta antes de deixar escapar um suspiro.
                — Pode ser que você esteja certa — deu de ombros.
                Beth analisou o rosto de Nana, subitamente deixou-se vencer pela exaustão.
                — Você pode me fazer um favor?
                — O quê?
                — Você pode ligar para o diretor e pedir para ele trazer Ben para casa depois da escola? Não quero que você dirija com esse tempo, mas também não estou em condições de dirigir.


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