sexta-feira, 12 de julho de 2013

1- Começo




...Thibault voltou à estrada, sabendo que estava perto de encontrá-la. Estava chegando cada vez mais próximo desse momento.

                Ela havia estado ali. Agora, ele tinha certeza disso. Tudo de que precisava era de um nome. Atravessando o país a pé, teve muito tempo para pensar nisso e decidiu que havia três maneiras de enfrentar a situação. Primeiro, poderia entrar em contato com a associação local de veteranos e perguntar se havia alguém por lá que tinha ido ao Iraque. Segundo, poderia ir até a escola local e ver se havia cópias dos anuários de dez a quinze anos atrás. \ Poderia olhar as fotografias uma a uma. Ou, em terceiro lugar, poderia mostrar a fotografia e fazer perguntas, As três alternativas tinham desvantagens e nenhuma tinha garantias. A associação dos veteranos não estava na lista telefônica. Um a zero. Como ainda estavam em férias, não acreditava que a escola estivesse aberta; mesmo que estivesse, talvez não fosse fácil ter acesso aos anuários. Dois a zero, pelo menos até agora. O que significava que a melhor alternativa era sair por aí perguntando se alguém a conhecia.Porém, a quem perguntar?
                Ficou sabendo pelo almanaque que em Hampton, Carolina do Norte, havia nove mil habitantes. Outros 13 mil moravam no condado de Hampton. Gente demais. A maneira mais eficaz seria limitar a busca aos candidatos mais prováveis. Uma vez mais, começou com o que já sabia.

Ela parecia ter 20 e poucos anos quando tirou a fotografia, o que significava que agora estava perto dos 30. Talvez 30 e poucos. Obviamente, era atraente. Indo mais ao fundo, em uma cidade daquela proporção, supondo uma distribuição por faixa etária igualitária, significa que haveria cerca de 2.750
crianças e recém-nascidos e 10 anos de idade, 2.750 pessoas entre 10 e 20 anos de idade, e 5.500 entre 20 e 30 anos de idade, a faixa etária dela. Grosso modo.
             Dentre os quais supôs ser metade homens e metade mulheres. As mulheres ficariam desconfiadas das suas intenções. Ele era um estranho. Estranhos eram perigosos. Duvidava que fornecessem muitas informações.
                Talvez os homens ajudassem, dependendo de como fizesse a pergunta.

                Sabia, por experiência própria, quase todos os homens prestavam atenção nas mulheres atraentes da sua idade, especialmente os solteiros. Quantos homens da faixa etária dela estariam solteiros no momento? Imaginou uns 30%. Poderia estar certo ou não, mas ia seguir esse caminho. Seriam mais ou menos 900 homens.
                Talvez tivessem feito o ensino médio juntos, talvez não — sabia que havia uma escola na cidade —, mas saberiam dizer se ela ainda estava solteira. É claro que era possível que ela não estivesse solteira — as mulheres das cidadezinhas do sul provavelmente se casam jovens, afinal de contas —, mas primeiro ia lidar com as suposições que já tinha feito. A frase no verso da fotografia — "Se cuida! E" — não soava romântica o suficiente para ser escrita a um namorado ou noivo. Não havia um "Eu te amo" nem um "Vou sentir saudades". Só uma inicial. Uma amiga,
                De 22.000 para 360 candidatos em menos de dez minutos. Nada mau. E definitivamente um bom número para começar. Supondo, obviamente, que ela morava ali quando a fotografia foi tirada. Supondo que não esteve ali somente de passagem.

           Sabia que seu plano era arriscado. Em cidades pequenas, os estranhos são sempre suspeitos, e, no fim da noite, viu o cara magrelo, de pele ruim, telefonan-do perto dos banheiros, olhando para ele nervosamente enquanto falava ao telefone. Antes de telefonar também estava nervoso, e Thibault concluiu que ele foi telefonar para a mulher da fotografia, ou era alguém próximo a ela. Sua suspeita se confirmou quando Thibault saiu. Como era previsto, o homem o seguiu até a porta para ver que caminho ia fazer, por isso Thibault foi na direção totalmente oposta, depois voltou.
                Quando chegou a um salão de bilhar de quinta categoria, passou pelo bar e foi direto para as mesas de sinuca. Não levou muito tempo para identificar homens da faixa etária de seu interesse; a maioria parecia ser solteira. Pediu para jogar também e ouviu um resmungo como resposta. Mostrou-se simpático, pagou umas rodadas de cervejas e perdeu algumas partidas para que os demais começassem a aceitá-lo.
                De forma casual, começou a perguntar sobre a vida social da cidade.
                Perdia algumas tacadas e os cumprimentava por seus acertos.
                Começaram a fazer perguntas sobre ele. De onde era? O que estava fazendo ali? Rodeou e hesitou, murmurando algo sobre uma garota, e mudou de assunto. Deixou a curiosidade de todos satisfeita. Pagou mais uma rodada de cerveja e eles começaram a perguntar novamente, então, relutante, contou sua história: disse que havia ido à feira com uma amiga há anos e havia conhecido uma garota. Eles se deram bem. Ficou falando sobre como ela era maravilhosa e que havia dito para procurá-la se algum dia aparecesse por lá novamente. E era isso que queria fazer, mas o problema é que não conseguia se lembrar do nome dela.
                — Não se lembra do nome dela?
                — Não. Nunca fui bom em guardar nomes.
                Levei uma tacada de beisebol na cabeça quando era criança e não tenho memória boa — disse, encolhendo os ombros, sabendo que iam rir dele, e riram.
                — Mas tenho uma fotografia — disse, como se só tivesse pensado nisso naquele momento.
                — Está com você?
                — Acho que sim.
                Revirou os bolsos e pegou a fotografia. Os homens reuniram-se ao seu redor. Um pouco depois, um dele balançou a cabeça negativamente.
                — Deu azar. Ela não está disponível.
                — É casada?
                — Não, mas garanto que não sai com ninguém. O ex dela não deixa, e, pode acreditar em mim, você não ia querer se meter com ele.
                Thibault engoliu em seco.
                — Quem é ela?


— Beth Green. É professora na escola de Hampton e mora com a avó no Canil Sunshine.
                Beth Green. Ou, mais precisamente, Elizabeth Green, Thibault pensou.
                "E".
                Foi quando conversavam que percebeu que um dos caras a quem havia mostrado a fotografia tinha saído de fininho.
                — Então, acho que não tive sorte — disse, guardando a fotografia.



            

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