terça-feira, 16 de julho de 2013

7- Outro dia com ele






Estava terminando o terceiro breque quando viu Elizabeth estacionar ao lado do caminhão. Olhou por detrás do ombro quando ela saiu do carro, percebendo que ela tinha ficado fora por muito tempo.
                — Como vai indo? — perguntou Elizabeth.
                — Estou quase acabando.
                — Sério? — ela parecia surpresa.
                — São só as pastilhas. Não é nada de mais.
                — Tenho certeza de que um cirurgião teria dito a mesma coisa. É só um apêndice.
                — Quer aprender? — perguntou Thibault, olhando para a silhueta dela tendo o céu como pano de fundo.
                — Quanto tempo leva?
                — Não muito. Dez minutos?
                — Sério? Certo. Deixe-me só levar as compras para dentro.
                — Precisa de ajuda?

                — Não, são só duas sacolas.
                Colocou a terceira roda, apertando os parafusos antes de pegar a última.
                Soltou os parafusos ao mesmo tempo em que Elizabeth chegou ao seu lado.
                Quando ela se agachou perto dele, pôde sentir o aroma de loção de coco que ele devia ter passado de manhã cedo.
                — Primeiro você tira a roda... — começou, e explicou todo o processo didaticamente, certifícando-se de que ela havia entendido cada passo. Quando ele abaixou o macaco e começou a recolher as ferramentas, ela balançou a cabeça.
                — Isso foi quase fácil demais. Acho que até eu poderia ter feito.
                — Provavelmente.

                — Então, por que cobram tão caro?
                — Não sei.
                — Estou na profissão errada — disse, levantando e prendendo o cabelo em um rabo de cavalo. — Mas, obrigada por ter feito isso. Já fazia tempo que queria consertar esse breque.
                — Sem problemas.
                — Está com fome? Comprei peru para fazer sanduíches. E um pouco de picles.
                — Parece delicioso.
                Almoçaram na varanda dos fundos, com vista para o jardim. Elizabeth ainda parecia dispersa, mas conversaram um pouco sobre como tinha sido crescer em uma cidade pequena, onde todo mundo sabe tudo sobre todo mundo.
                Algumas das histórias eram engraçadas, mas Thibault admitiu que preferia uma existência mais anônima.
                — Por que será que não estou surpresa?
                Depois, Thibault voltou a trabalhar enquanto Elizabeth passou a tarde limpando a casa. Ao contrário do seu avô, Thibault conseguiu abrir a janela do escritório que havia sido pintada estando fechada, embora tenha sido uma tarefa mais difícil do que consertar o breque do caminhão. Nem ficou fácil de abrir ou fechá-la depois, por mais que ele tivesse lixado para amaciá-la. Depois, pintou os batentes.

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