quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Completando o assunto sobre o Transtorno de Borderline

Transtorno Borderline e o filme Garota Interrompida
O transtorno Borderline de personalidade, sendo uma patologia que tem datado seu nascimento entre as décadas de 1950 e 1960, não entrou no campo de estudo de Sigmund Freud.   Os estudos do Borderline têm uma grande função na psicologia, abrangendo também o campo da psiquiatria, pois pode-se dizer que esta doença apresenta um dos piores prognósticos, tornando, assim, seu tratamento bastante difícil e complicado. Este transtorno também é considerado uma das doenças mentais de mais difícil solução. Isto é explicado pelo fato de que esta doença tem seu início na infância ou na adolescência e assim é assimilada pela personalidade ainda em formação como uma de suas características. Desta maneira, este transtorno torna-se um grande desafio para os profissionais da área. 

   O transtorno Borderline de personalidade foi definido e difundido na América Latina por Donald Meltzer com pacientes que estavam em transição, notadamente da neurose para a psiconeurose. Mas, atualmente um dos maiores estudiosos desta patologia é o vienense Otto F. Kernberg, que considera o transtorno Borderline de personalidade um dos maiores problemas de campo da psiquiatria e da psicologia.

 A Organização Borderline de Personalidade à Luz da Psicanálise:

   Os valiosos e profundos estudos sobre a organização borderline de personalidade foram concluídos por Otto Kernberg. Segundo este estudioso há três características dominantes relativas a este transtorno: 

   1. Grau de integração da identidade.
   2. Tipos de operações defensivas que ele habitualmente emprega.
   3. Capacidade de testar a realidade.

    Em relação a primeira característica, no Borderline há uma desintegração da identidade. Em relação a segunda característica, há uma predominância de operações defensivas primitivas centrada no mecanismo de cisão. Na terceira característica é mantido o teste de realidade. 

    Estas três características são consideradas dominantes, pois constituem a base de toda a desorganização da personalidade Borderline e são estas que vão diferenciar o Borderline dos pacientes neuróticos e psicóticos, por isso elas são bastante importantes para o diagnóstico. 

    Na sua relação com o mundo, o fato mais marcante, que exprime uma de suas características internas, é o fato dele não saber exatamente o que sente pelas pessoas e por si mesmo. Ele não sabe quando os outros são bons ou maus, apresentando uma oscilação entre extremos: num momento sente que é mau e os outros são bons e em outro momento ele se sente como bom e os outros maus. Este fato descreve sua oscilação entre a culpa e a perseguição, que são os dois sentimentos mais presentes na vida do Borderline. No primeiro momento, ele se sente culpado. Já no segundo momento se sente perseguido e esta passagem de um extremo para o outro se dá muito rápido. Este comportamento mostra uma característica interna onde o ego do sujeito não consegue discriminar representações de self ligadas a afetos amorosos de representações de self ligadas a aspectos agressivos; da mesma forma em relação às representações de objetos. Assim as representações de objeto, são sempre equivocas, transformando-se, às vezes, em segundos de idealizadamente boas à persecutórias, demonstrando a inconstância dos objetos internos, os quais são ameaçadores e a qualquer momento podem trair, derrubar, abandonar e destruir. 

   Vivendo, então, em perigo constante dentro de si mesmo, o Borderline fica extremamente ansioso e agressivo. Outra conseqüência deste perigo interno é o excessivo apego e dependência dos objetos externos, sobre tudo das figuras mais próximas e necessárias. Quanto mais ele fica dependente desses objetos externos que em um determinado momento são sentidos como maus e logo depois como bons, mais o ego do Borderline se enfraquece, carregando um alto grau de ansiedade. Mas, apesar disso, ele precisa se apegar a esses objetos externos, pois diminuem a culpa, na medida que o Borderline percebe que, apesar dos seus ataques esses objetos ainda estão vivos e imunes à maldade do self. 

     Um dos grandes agravantes do quadro Borderline é o fato de que quando ele faz sua regressão não consegue se estabelecer num único e determinado ponto de fixação na sua pré-genitalidade. Ele fica transitando entre as fases pré-genitais. Isto significa que, ao passar pelas fases pré-genitais na sua infância, não conseguiu resolver nenhuma delas ou então resolveu de uma forma pouco satisfatória tornando sua passagem por elas bastante confusa e complicada. Observando mais profundamente, parece mais do que um ponto um período de fixação que atravessaria a etapa de separação, diferenciação e reaproximação. 

   Os mecanismos de defesa primitivos protegem o ego de conflitos por meio de dissociação ou do afastamento de experiências contraditórias do self e de outros significativos, ou seja, esses mecanismos separam estados contraditórios do ego. Contanto que essas contradições possam ser mantidas separadas, a ansiedade que advém desses conflitos é prevenida ou controlada. Mas, apesar de diminuir a ansiedade, esses mecanismos quando ativados enfraquecem o ego, promovendo uma falta de integração entre os objetos internos e externos. Estes mecanismos são:

> Cisão - divisão de objetos externos em "inteiramente bons" e "inteiramente maus", e, ao mesmo tempo oscilando o mesmo objeto de um extremo para o outro. 

> Idealização Primitiva - uma idealização irreal dos objetos como inteiramente bons e poderosos e idealizadamente como maus e perversos. Uma conseqüência é em reforçamento do mecanismo de cisão. 

> Identificação Projetiva - tendência de projetar o impulso, que está a experienciar, na outra pessoa. Logo depois, começa a sentir um grande medo dessa pessoa sob a influência daquele impulso projetado. Apesar deste medo, o Borderline acredita que através deste mecanismo pode controlar a outra pessoa. 

> Negação - frente a um medo, conflito ou uma necessidade, o Borderline não expressa nenhuma reação emocional, preocupação ou ansiedade, comunicando calmamente sua conscientização cognitiva da situação. Age dessa forma para se proteger de um potencial conflito. 

> Onipotência e Desvalorização - ativam estados do ego, refletindo um self inflado, grandioso, relacionado a representações dos outros emocionalmente degradantes e depreciativas.

O super-ego é uma instância também carregada de muita agressividade, onde para dentro dele foram introjetados muitos objetos internos maus que não se distinguem bem do self. Significa dizer, então, que até certo ponto, o Borderline, não consegue discriminar self de objeto interno idealizadamente persecutório que não é outro senão o disfarçado super-ego. 

   Isso gera duas conseqüências: quando o super-ego é sentido como mau, o ego se sente perseguido. E quando o ego vivencia o super-ego como objeto mau que não se distingue do self, surge uma grande ansiedade, culpa e masoquismo.
   Enfim, a organização Borderline de personalidade vive num mundo escuro, de pesadelo, cheio de "fantasmas" ora perseguindo-o ora culpando-o. Como eles não apresentam uma divisão segura e firme que separa o pré-consciente do inconsciente e não conseguindo utilizar o mecanismo de repressão (alivia mais a angústia), vivem uma dor permanente da qual ele não pode escapar. Somente através de uma terapia psicanalítica este quadro poderá ser revertido.
               "Pode -se dizer que o tratamento da organização Borderline de personalidade consistiria economicamente numa transformação das pulsões: de morte em vida, destrutivas em amorosas sado-masoquistas, em auto-conservadoras". 

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